Powered By Blogger

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Teia


A teia



O ofício de Teresa foi sempre o mesmo. Tecer palavras e criar enredos estranhos, encostando aqui e ali o destino de protagonistas os mais desencontrados, vidas e sentimentos que se mesclavam em suas mãos pequenas, nos dedos ágeis teclando uma gasta “Lettera 22”, os olhos perscrutando futuros encontros e desencontros, mágoas, desapontamentos. Havia estórias de delicadas alegrias, de sorrisos abertos, de paixões tantas e tontos abraços, corpos caídos em campos de lavanda, grilos anoitecendo a noite, o amor siderado, a valsa colada nos olhos encantados de adolescentes, mulheres maduras de mãos dadas com homens vencidos pelo cansaço do existir. Era o ofício de Teresa dar vida e teclar nas laudas em branco os personagens que viviam com ela, como num sonho parindo destinos.



Sônia vivia os enredos da irmã e seguia a teia dos sentimentos quase cegos que a guiavam por noites e dias. Estancava em encruzilhadas perdidas ou tomava rumos incertos, ruas, alamedas, avenidas, vielas de periferia. Tinha um dia para viver o romance daquele dia – e tinha uma noite para viver todas as perdições daquela noite, e para tanto precisava de uma taça de vinho para inebriar-se na ponta do sonho daquele instante. Seu hálito de embriaguez era um convite à sedução de viver a vida a todo custo!



Eunice, a terceira irmã, trancava-se no seu mundo de sombras. Gostava de determinar o fim de tudo: das alegrias, dos amores, dos casamentos, das amizades, dos encontros. Decretava secamente a morte das pessoas sem qualquer remorso ou mágoa. Dava um sorriso mofo e empunhava a tesoura para cortar o próximo fio, o próximo destino que se findaria num átimo. Não se ligava nas criações de Teresa, nem se embriagava na vida fulgurante de Sônia. Era decididamente a pior das três moiras

                                                  Paulo Celso Pucciarelli

Nenhum comentário:

Postar um comentário