quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Abstração
Nascer e morrer. Duas singularidades.
A primeira, nascer, não depende de nós; a segunda, morrer, também não depende de nós.
Nos cabe, tão somente, preencher, se não da forma mais prazerosa, a menos sofrida, o tempo que permeia essas duas singularidades.
Antes e depois delas o silêncio da eternidade.
Mário (28/01/2010)
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Dois pra cá, dois pra lá
Passou pela porta de vaivém. Antes de olhar as pessoas, viu-se refletido na vasta parede espelhada. Desafinou das imagens no espelho. Rostos vermelhos ofegavam energia. A professora dizia com voz forte: atenção, pessoal! É 1-2, 1-2-3. A parte anterior do pé deve tocar o chão. Depois, com o calcanhar diminuiam o peso do corpo. Mais uma vez: 1-2, 1-2-3. Para trás. Agora, os dedos do pé tocando o assoalho! 1 e 2 e 3. Cha cha cha. O cavalheiro gira a dama, cha cha cha.
Sentiu-se estrangeiro naquele grupo de dança. Embaraçado, pensou em voltar atrás, mas reconheceu a voz feminina que berrou lá do fundo: Ádvena! Demorou a entender o sentido de palavra tão impenetrável. Era a namorada risonha que o apelidava fortuitamente. Sentiu o rosto se tingir de rubro. A lembrança da mãe dançando com o namorado o consumiu. Examinou Maria mais uma vez, a cintura cingida por vigorosas mãos. Não suportando aquela imagem, virou-lhe as costas e partiu.
Ave, Palavra
Dualidade
Dualidade
Em ti, terna dualidade...
O destino e a transcendência
A turbulência e a quietude
A demência e a sanidade
Traçam tragédias, tecem sentimentos
Tonalizam desculpas
Em ti, Deus e o Diabo
O Diabo e Deus
Donos do tempo
Desfrutam a desordem
Tecem domínios, desterram devaneios
Dormem, deliram e discursam...
Na tua terna dualidade diária.....
maria izabel
Poesia
Poeta da forma coloco nas peças um toque de sensibilidade.
Sutilezas da alma!
É meu jeito de fazer poesias...
Maria Izabel
Moringa
Por ora nem me lembro... da mão, do barro, da tinta, do trabalho e do fogo.
É bem verdade que me encanta a forma, a delicadeza, o tom azulado da peça.
Mas, agora... só sinto sede!
Maria Izabel
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Teia
A teia
O ofício de Teresa foi sempre o mesmo. Tecer palavras e criar enredos estranhos, encostando aqui e ali o destino de protagonistas os mais desencontrados, vidas e sentimentos que se mesclavam em suas mãos pequenas, nos dedos ágeis teclando uma gasta “Lettera 22”, os olhos perscrutando futuros encontros e desencontros, mágoas, desapontamentos. Havia estórias de delicadas alegrias, de sorrisos abertos, de paixões tantas e tontos abraços, corpos caídos em campos de lavanda, grilos anoitecendo a noite, o amor siderado, a valsa colada nos olhos encantados de adolescentes, mulheres maduras de mãos dadas com homens vencidos pelo cansaço do existir. Era o ofício de Teresa dar vida e teclar nas laudas em branco os personagens que viviam com ela, como num sonho parindo destinos.
Sônia vivia os enredos da irmã e seguia a teia dos sentimentos quase cegos que a guiavam por noites e dias. Estancava em encruzilhadas perdidas ou tomava rumos incertos, ruas, alamedas, avenidas, vielas de periferia. Tinha um dia para viver o romance daquele dia – e tinha uma noite para viver todas as perdições daquela noite, e para tanto precisava de uma taça de vinho para inebriar-se na ponta do sonho daquele instante. Seu hálito de embriaguez era um convite à sedução de viver a vida a todo custo!
Eunice, a terceira irmã, trancava-se no seu mundo de sombras. Gostava de determinar o fim de tudo: das alegrias, dos amores, dos casamentos, das amizades, dos encontros. Decretava secamente a morte das pessoas sem qualquer remorso ou mágoa. Dava um sorriso mofo e empunhava a tesoura para cortar o próximo fio, o próximo destino que se findaria num átimo. Não se ligava nas criações de Teresa, nem se embriagava na vida fulgurante de Sônia. Era decididamente a pior das três moiras
Paulo Celso Pucciarelli
Entrelinhas
Como tonta sem ser barata. Como ângulo que se exibe e não se completa. Sem saber fim nem começo. Do avesso.
Teresa Melo
Painel
Uma possibilidade ou um nada. Curvas ou linhas. Um quadrado em outro e quem se importa? Melhor mirar o olho mágico da porta.
Teresa Melo
Teresa Melo
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Texturas
...e assim como as linhas da vida que cruzam, descruzam, em retas e curvas paralelas e discordantes, a peça no centro da mesa se insinua.
Simples, ousada, intrigante.
Arte pura
( lilás)
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Desconstrução
Desconstrução
A menina abriu a porta do guarda-roupa. Precisava dispor todas as coisas de forma ordenada, organizar as idéias enoveladas pelo conflito familiar, ouvir o silêncio, a pulsação, o sangue correndo nas veias. O choro da mãe se distanciava. Criteriosa, media a distância entre os cabides, separava as roupas baseando-se nas cores: do branco ao preto. Gradativamente. Outro critério de arrumação se desdobrava dentro desse: o tipo de tecido, a idade da vestimenta, o destino de cada uma. A fúria do pai abrandava. Devagar, o batimento cardíaco amansou, o grito asfixiado no escuro das gavetas. Precisava abstrair o mundo ao redor e se dispersar pelos vãos. Evadia-se para outra realidade, ensaiando seus primeiros passos pelo alheamento. Concentrou-se na horizontalidade das listas, com intervalos breves e regulares. Era assim que idealizava a vida. Coerente e sem lapsos. Mas ouviu a mãe chorando baixinho. Nas listras sucessivas, o contínuo que se rompe. A vida? Um eterno desfazer para refazer.
Ave, Palavra
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