Vias
Ao chegar em casa, Marina pôde sentir o cheiro de cigarro que vinha da cozinha. Aquilo a incomodava profundamente. Odiava este vício da mãe.
Fechou a porta e jogou a bolsa sobre a mesa, passando direto para o quarto. A cama ainda estava desfeita, e roupas e sandálias caídas no chão eram mordidas por Bruce, o filhote de poodle que Joana, a vizinha, lhe deu de presente.
- Mas que droga! A menina vociferou e o cachorrinho, assustado, enfiou-se embaixo da cama. Amarrando os cabelos, Marina foi juntando tudo com os pés e abaixou-se para pegar as roupas.
A mãe fumava enquanto olhava pela janela protegida por uma tela. Os anéis de fumaça eram cortados pelos fios de nylon que ocupavam aquele espaço de onde se poderia ver a chuva fina que ao tocar o solo fazia levantar uma fina camada de poeira.
A sobreposição dos fios era precisa e, se mudada a perspectiva de quem a olhava, podia parecer um detalhe de chochê e até uma macarronada sem molho.
O barulho da máquina de lavar assustou Beatriz, até então absorta. A filha jogava as roupas com uma raiva que atraiu o olhar curioso da mãe. Mas a garota permaneceu indiferente.
E ali, na cozinha, cada uma delas lidava com suas frustrações da maneira que lhes parecia mais fácil. Fosse chutando e jogando coisas, ou lançando fumaça pelos ares.
Vera V
Nenhum comentário:
Postar um comentário